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O mundo vem passando por mudanças significativas ao longo das últimas décadas e é importante refletirmos de forma apropriada sobre elas e sobre seus efeitos sistêmicos.

Olhar com atenção para processos transformativos e críticos, que irradiam do centro do sistema internacional, a partir de uma “perspectiva periférica” é um exercício acadêmico de grande relevância, da mesma forma que nos permite compreender seus efeitos sobre países e sociedades mais vulnerabilizadas em razão da fragilidade de suas instituições, das suas insuficiências materiais e contradições socioeconômicas.

O crescimento de partidos de extrema direita e a vitória eleitoral de governos dessa natureza em países desenvolvidos com democracias consolidadas vem suscitando importantes debates na academia, ao mesmo tempo que levou à multiplicação de obras e teses sobre o fenômeno. Termos diversos passaram a recompor nossa bibliografia – contemporary far-right populism, right-wing populism, populist radical right, far-right racist populism e new-fascism – dedicando-se a explicar a ascensão de Donald Trump nos Estados Unidos, o governo de Matteo Salvini pela Liga do Norte na Itália, a opção pelo Brexit, a reabilitação do National Front francês e o espaço alcançado nacionalmente pelo Alternative für Deutschland.

Não necessariamente determinado pelos resultados eleitorais no Norte, outro sentido de mudanças globais de grande relevância é o recrudescimento da disputa Estados Unidos-China (para alguns, seria a consolidação da multipolaridade ou, como sustentado por outros, um retorno à bipolaridade ou mesmo uma nova Guerra Fria).

O acirramento de disputas globais, a emergência de governos antidemocráticos e com forte viés anticientífico, em um contexto potencializado pelo surto da pandemia de COVID-19, com efeitos humanos dramáticos, produziram efeitos sistêmicos importantes.

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